terça-feira, 29 de outubro de 2013

Relato após um mês e uma semana morando na Alemanha

A Alemanha é ótima pra se morar – se você já nasceu aqui. Se não, você vai sofrer um pouquinho pra se adaptar. Eu ainda não me adaptei. Na verdade, falta muito pra isso. O transporte público é maravilhoso e é uma das coisas que eu mais aprecio. A universidade tem uma estrutura excelente. Todo mundo fala inglês – e isso é um problema pra mim porque estou tentando aprender alemão. A cidade é linda e tem calçadas e ciclofaixas. Mas tudo parece absurdamente complicado. Tem hora que eu canso de tomar tantas decisões e resolver tantas burocracias. Tirar identidade, fazer registro de moradora, abrir conta no banco, matricular não sei onde, me inscrever no site, pegar senha de não sei o quê, fazer cartão pra isso, cartão praquilo, preencher formulário. Às vezes dá vontade de desistir e me enfiar debaixo do edredom.  Às vezes me irrita ouvir alemão o tempo todo. A língua já não me parece mais tão legal como era antes. Uma palavra que sempre me vem à cabeça quando eu penso em descrevê-la é: artificial. Mas posso amenizar: formal. O alemão não é flexível. E é esquisito, com tudo trocado e tudo certinho.



Eu sinto falta de pedir um expresso e ganhar uma xícara cheia, cheinha mesmo, até a borda. Sinto falta de entrar numa livraria e me interessar pelos livros e ficar com vontade de comprar todos – porque agora eu não faço muita ideia nem do que significam certos títulos. Eu sinto falta de me sentir bem informada – não consigo acompanhar as notícias da região. Eu sinto falta de tomar caipirinha por 4 reais no Novo Pina. Eu to cansada de tomar cerveja, cerveja, todo dia cerveja. Eu sinto falta de poder andar descalça dentro de casa – porque o chão aqui é sempre gelado. Na verdade, eu sinto falta de ter uma casa. Eu sinto falta de ter privacidade – porque os donos do meu quarto sempre entram e saem a hora que querem. Eu sinto falta de ouvir os passos pesados do meu cachorro me seguindo pela casa. Eu sinto falta de abrir a janela e respirar ar puro – porque é tão frio aqui que as janelas ficam sempre fechadas. Eu sinto falta de deitar na rede e ler um livro. Eu sinto falta de baixar meus filmes, meus seriados. Eu sinto falta de ir ao Cinema da Fundação. Na verdade, eu sinto falta de ir ao cinema – porque aqui é muito caro e todos os filmes são dublados em alemão. Eu sinto falta de poder ir pro prédio de Decão e encontrar Nântua, Rodrigo, Igor, Victor e Dani pra tomar uma. Eu sinto falta de sair com Kikushi e Bruna pra qualquer lugar que seja. Não preciso nem dizer como eu sinto falta de Maragogi. De poder acordar e ouvir o barulho dos coqueiros, de sentir o cheiro do mar. Eu sinto falta de ouvir meu ipod no Dois Irmãos Rui Barbosa – porque aqui eu não posso baixar música. Eu sinto falta do cappuccino de paçoca do Delta. Eu sinto falta de entrar numa loja qualquer e ouvir alguém falando “bom-dia”. Eu sinto muita falta da minha língua. O português é lindo. É tão moldável, adaptável, inventivo – eu sinto falta das minhas expressões, do meu “oxente, vei, na moral”, dos meus palavrões, inclusive. Eu sinto falta, muita falta de comer tapioca e pão de queijo. De feijão então, nem comento. Eu sinto falta de passar na Fri Sabor depois da aula. De ficar criando mil projetos com o pessoal de jornalismo na frente do CAC. Sinto falta de Regina e Marina discutindo moda gospel.

Aí eu resolvo ligar a televisão aqui: passa How I Met Your Mother – e de repente Robin fala “natürlich”. Levo um susto. E depois fico com vontade de chorar.
A Alemanha é incrível, mas...

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